Somos analfabetos sexuais?
Data de Publicação: 13 de agosto de 2020 13:02:00 Porque a as pessoas não conseguem quebrar alguns tabus?
Em minha experiência clínica, sempre que recebo um novo paciente, me deparo com um aspecto comum: pouca ou nenhuma educação sobre a sexualidade. E não tem relação com informação, pois na internet existem inúmeros artigos, informações e dicas numa linguagem simples e acessível. Mas porque ainda assim as pessoas não conseguem quebrar alguns tabus?
Voltemos no tempo..Em aspectos geracionais, podemos dizer que até os anos 60, não se falava em sexo por prazer. O ato sexual era para fins de procriação, cumprimento de obrigações maritais, como “consumar o casamento”, por exemplo. Após o advento da pílula anticoncepcional muitas coisas mudaram. O prazer começou a tomar seu lugar no ato sexual.
Podemos afirmar também que até pouco tempo atrás as pessoas não encaravam o sexo com o viés do prazer. Ou seja, é algo novo, pelo menos no ocidente.Quando retomamos a história da sexualidade, conseguimos entender melhor.
De acordo com Foucault, um filósofo muito importante que descreveu em três volumes a “História da Sexualidade”, afirmava que durante séculos, se ligou o sexo à busca da verdade, sobretudo a partir do cristianismo. A confissão, o exame da consciência, foi o modo de colocar a sexualidade no centro da existência. O sexo, nas sociedades cristãs, tornou-se algo que era preciso examinar, vigiar, confessar. Podia-se falar de sexualidade, mas somente para proibi-la. Dizia que vivemos em uma sociedade que produz discursos tidos como verdades. Essa produção de "discursos verdadeiros" resulta na formação de poderes específicos. Assim, sustenta que as "verdades" produzidas em relação a sexualidade tornou-se um problema no Ocidente, uma vez que levaram à repressão sexual.
E dentre os “discursos” comuns, podemos afirmar que o sexo sempre foi tratado de forma marginal.
Exemplos:
- Uma pessoa que vive a sua sexualidade de forma intensa: Promíscuo
- Sexo vivido antes do casamento: Fornicação /pecado
- Vivenciar o prazer, desejos sexuais: luxúria ( um dos sete pecados capitais)
- A prostituição, que é uma profissão considerada controversa, no qual muitos dos que procuram são pessoas casadas, insatisfeitas com seus relacionamentos, ou que acreditam que em casa, determinadas práticas não podem ser vividas, ou permitidas.
- Quando alguém é ofendido, grande parte dos xingamentos tem cunho sexual (chamar a mãe de prostituta, o homem de viado, a mulher de piranha).
Perceberam as sutilezas? De uma forma ou de outra os mecanismos culturais que recaem sobre a sociedade ocidental. A sexualidade foi sendo construída historicamente através de modelos de verdades que não permitiam que o indivíduo fosse livre, dono de seus atos, independentes; emancipado.
Quais os resultados?
- Casais que não conseguem conversar sobre sexo;
- Mulheres que acham que o sexo é obrigação e acabam não sentindo prazer algum na relação;
- Homens inseguros com o tamanho do seu pênis;
- Pessoas vivendo uma sexualidade medíocre;
- Mulheres que desconhecem o prazer;
- Travas sexuais;
- Traumas com relação ao corpo e autoimagem;
- Expectativas irreais sobre o sexo;
- Inexperiência;
- Equívocos
De quem é a culpa? Da sociedade? Dos nossos pais ??Nossos avós não sabiam, nossos pais proibiam, nós entre erros e acertos, estamos aprendendo. A culpa não é de ninguém, afinal, somos fruto do nosso contexto cultural. Através da educação em sexualidade,temos a oportunidade de transformar uma geração cheia de conceitos equivocados sobre a sexualidade, para uma geração informada e consciente. Para alcançarmos isso precisamos aprender a lidar com as diferenças, ajustar as expectativas, ser reais e claros com o nosso parceiro, sobretudo ser verdadeiros com a gente mesmo
A educação sexual que visa uma proposta emancipatória, tem a finalidade de superar os antigos conceitos e modelos de maneira que se permita compreender a complexidade, a riqueza única da sexualidade humana.
Descubra os seus sentidos, respeite sua verdade. Você merece ter uma visão positiva da sexualidade!
(Por Bruna Coelho - Colunista)
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