Moro ameaça deixar Governo de Bolsonaro
Data de Publicação: 23 de abril de 2020 19:15:00 Ex-juiz da Lava Jato se sente desautorizado pelo presidente, que quer ter maior influência sobre as investigações policiais. Possível saída afetou o Ibovespa
O ex-juiz Sergio Moro ameaçou pedir demissão do cargo de ministro da Justiça e Segurança Pública. A ameaça de desligamento da pasta ocorreu depois que o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), avisou a ele que nos próximos dias trocará o diretor-geral da Polícia Federal, o delegado Maurício Valeixo. O policial foi indicado por Moro para o cargo e é de extrema confiança do ainda ministro. Moro e Valeixo trabalharam juntos no início da Lava Jato, a operação anticorrupção que alçou ambos aos atuais cargos. Interlocutores do ministro disseram ao EL PAÍS que, se Valeixo sair, Moro também deixará o cargo porque se sentiria desautorizado pelo chefe do Executivo. O objetivo do presidente é ter maior influência sobre as investigações da polícia.
Moro chegou ao ministério no ano passado com a alcunha de superministro. A promessa era de que teria carta branca para atuar. Na prática não é o que ocorre. Meses depois da posse, Bolsonaro passou a dizer que ele próprio tinha poder de veto sob as decisões ministeriais. Sua preocupação era que a Polícia Federal pudesse avançar nas investigações contra o seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), suspeito de desviar recursos de seus antigos assessores na Assembleia Legislativa do Rio.
Essa foi a quinta vez que o presidente deu sinais públicos para enfraquecer Moro, um ministro mais popular que o próprio mandatário. As outras foram quando Bolsonaro: aventou a possibilidade de demitir Valeixo no ano passado, sinalizando que trocaria o superintendente da PF no Rio de Janeiro, quando sugeriu que dividiria o ministério em dois e quando sancionou a lei que criava a figura do juiz de garantias, contrariando a orientação de Moro. Além de ser constantemente alvo de fogo amigo provindo do Palácio do Planalto, Moro se incomodou com a aproximação de Bolsonaro com figuras condenadas ou rés nos dois maiores escândalos de corrupção do país, o mensalão do PT a Lava Jato.
Os ministros-generais de Bolsonaro têm atuado para amenizar mais uma crise iniciada pelo presidente. Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria-Geral) e Walter Braga Netto (Casa Civil) tentam convencer o presidente a não demitir Valeixo e, consecutivamente não perder, Moro. No início da tarde, a Folha veiculou a informação de que o ministro da Justiça havia pedido demissão. Mas sua assessoria negou a notícia. De qualquer maneira, Ramos e Braga Netto o procuraram quase que imediatamente. No ano passado, foi Heleno quem garantiu Moro no cargo. Ele disse ao presidente que demitir seu ministro-estrela seria o fim de seu Governo.
A veiculação da informação de que Moro teria se demitido teve forte impacto sobre a Bolsa de valores do Brasil. Após uma manhã de volatilidade, o Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, passou a cair mais de 2%, que também refletiu no avanço do dólar frente ao real. O dólar chegou a bater 5,50 reais. Às 15h05 a moeda norte-americana registrava alta de 0,51%, cotada a 5,483 reais.
Nesta semana, outro auxiliar que era considerado superministro de Bolsonaro, Paulo Guedes, da Economia, também perdeu poderes. O plano de recuperação econômica do Governo anunciado na quarta-feira pelo Governo foi coordenado pelo ministro Braga Netto e não teve qualquer participação de Guedes. Muito menos o seu aval, já que se baseia em forte investimento público, o que a agenda neoliberal do ministro não aceita.
Desde que iniciou seu Governo, Bolsonaro é quem mais cria crises em sua gestão. Elas se intensificaram nos últimos dez dias. No período, além de queimar Moro e Guedes, ele trocou o seu ministro da saúde em meio a pandemia de coronavírus e participou de uma manifestação que pedia intervenção militar no país.
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